quarta-feira, 2 de março de 2016

Quando Caminho Sem Pressa

 Eu aprecio tanto a calmaria que poderia passar horas em um suposto ócio, permitindo-me contemplar a tranquilidade que se passa despercebida por mim. No seu tempo. No seu próprio ritmo. Nas suas notas que silenciam o meu respirar e cantam o meu pulsar.


 A necessidade é tão urgente que me move a caminhar pelas ruas e assistir ao sermão do estilo de vida que tanto almejo. Gosto muito de andar por aí e perceber as pessoas jogando conversa fora no portão de suas casas, crianças brincando na rua ou na calçada, trabalhadores desacelerando o passo à medida que vão chegando aos seus lares. Enquanto isso, eu também desacelero e dou atenção à brisa que corre sem pressa de uma rua a outra, e percebo que essas cenas ainda existem; a leveza ainda nos habita.

 Minha mente pede que eu pare e a pressa diz que eu não posso. Mas serei eu mesmo o responsável pelo meu próprio ritmo ou apenas mais um subordinado à ditadura do falso urgente?! Minha mente me chama a essa responsabilidade. Meu coração fadigado grita pra eu ir com calma. Meu corpo já não fala, pois está ofegante. E eu, no todo de mim mesmo, decido que não quero mais perder o que eu deveria estar ganhando; que eu não quero mais adiar as prioridades ou marcar encontros com o que toma o meu tempo. Eu dei atenção ao conhecimento que me diz a respeito do processo que se completa em si mesmo.

 A pressa é uma vilã. A pressa nos priva do prazer de um café ou um chá com uma pessoa especial enquanto um deixa suas impressões e afeições no outro. A pressa nos ausenta dos encontros com a paz. A pressa nos furta a esperança, sendo essa a virtude responsável por nos tornar grandiosos; por nos dar a percepção do tempo sem fim que mora em nós. Essa percepção que nos eleva, que nos tira do encanto que domina as mentes vazias, que nos apresenta às virtudes preciosas que simplesmente existem, sem terem começado e que jamais acabarão. A pressa não é apenas inimiga, mas o oposto da perfeição. Essa perfeição que é eterna. A eternidade que habita esse coração apressado e se revela somente a quem anseia por experimentá-la.