Às vezes a vida nos
isola do mundo, apaga as luzes do quarto, tranca todas as portas e janelas que
costumavam nos dar esperanças. Percebemos que não há nada ao redor, nem bom nem
ruim. Talvez nos acostumemos com o tempo, talvez não. Fechamos os olhos e enxergamos
o que somos de verdade, onde nos encontramos em nosso interior, aquela parte
mais real com a qual não lidamos há tempos. E o processo mais árduo, de
auto-reconhecimento, mostra-nos aonde chegamos à jornada da vida até então.
Rastejando.
Sem força alguma. Apenas algum tipo de poder, alguma forma de crença. Fé. A
única coisa que me resta em proporção suficiente. A última brasa viva que tem
me movido pelo chão, enquanto eu tento olhar para o alto, onde supostamente eu
deveria estar. Talvez o maior esforço seja para manter a cabeça erguida, não
perder o foco da vida e enxergar com o coração aquilo que não é possível ver.
Manter a brasa acesa, sustentar a fé em chamas. Essa parte de força que me
resta é o que me permite sentir o que não vejo e acreditar no que ainda não
sinto.
Mas talvez o
pior não seja estar no chão. Talvez o pior seja se encontrar sozinho no fundo
de um grande poço, ou uma pequena casa de madeira no olho de um furacão, talvez
um barco velho no meio de um oceano ainda pacífico. Quem sabe até um vento
comum, uma brisa leve, mas que te faz sentir como uma pena, sem conseguir se
governar pela direção desejada. De qualquer forma, sentir-se sozinho é um
pesadelo. Quando as pessoas a sua volta estão apenas assistindo ou são o
próprio buraco, o furacão ou as ondas do mar. É impressionante como não
enxergamos o que fazemos, com as chances que encontramos pelo caminho por tanto
tempo. Como caminhamos às cegas, com vendas que vamos colocando sobre os olhos.
E quando você decide enxergar, já está ferrado, na tempestade, atormentado
pelas fraquezas e assustado com as conseqüências de pequenos atos
inconseqüentes. E quando você acha que mais nada pode acontecer, a vida te
mostra mais uma vez que você é apenas um ponto em um universo infinito.
Repentinamente os ventos contrários sopram, e eu
que achava estar chegando a algum lugar de honra, sou levado de volta a um
lugar de humildade. Percebo então que qualquer vento contrário, aparentemente
infernal, pode me levar à reconstrução do meu ser. A tensão que leva à redenção
é tudo o que eu preciso sem saber. Toda a escuridão sempre coopera para o meu
bem, sem perceber, sem entender. Desejo nunca me esquecer. Que o ‘fantasma’
sempre estará sobre as águas, que o sonho brilha mais forte que a escuridão do
poço, que o mestre dos mares continua dentro do barco. Abrir os olhos é pisar
sobre o único degrau que se pode ver. Ter fé é insistir em acreditar que não
importa quão forte seja a tempestade, quão longe os ventos contrários te façam
voltar ou quão profundo seja o poço que te jogaram ou que você se jogou, a
verdade absoluta é que o medo, a insegurança, a cruz, a dor e a morte são
aparentes. A única coisa genuína é o que a redenção proporciona. Quando não
temos mais saída, tudo o que precisamos é de um recomeço de VIDA.
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