sábado, 12 de janeiro de 2013

Redenção


 Às vezes a vida nos isola do mundo, apaga as luzes do quarto, tranca todas as portas e janelas que costumavam nos dar esperanças. Percebemos que não há nada ao redor, nem bom nem ruim. Talvez nos acostumemos com o tempo, talvez não. Fechamos os olhos e enxergamos o que somos de verdade, onde nos encontramos em nosso interior, aquela parte mais real com a qual não lidamos há tempos. E o processo mais árduo, de auto-reconhecimento, mostra-nos aonde chegamos à jornada da vida até então.

Rastejando. Sem força alguma. Apenas algum tipo de poder, alguma forma de crença. Fé. A única coisa que me resta em proporção suficiente. A última brasa viva que tem me movido pelo chão, enquanto eu tento olhar para o alto, onde supostamente eu deveria estar. Talvez o maior esforço seja para manter a cabeça erguida, não perder o foco da vida e enxergar com o coração aquilo que não é possível ver. Manter a brasa acesa, sustentar a fé em chamas. Essa parte de força que me resta é o que me permite sentir o que não vejo e acreditar no que ainda não sinto.


Mas talvez o pior não seja estar no chão. Talvez o pior seja se encontrar sozinho no fundo de um grande poço, ou uma pequena casa de madeira no olho de um furacão, talvez um barco velho no meio de um oceano ainda pacífico. Quem sabe até um vento comum, uma brisa leve, mas que te faz sentir como uma pena, sem conseguir se governar pela direção desejada. De qualquer forma, sentir-se sozinho é um pesadelo. Quando as pessoas a sua volta estão apenas assistindo ou são o próprio buraco, o furacão ou as ondas do mar. É impressionante como não enxergamos o que fazemos, com as chances que encontramos pelo caminho por tanto tempo. Como caminhamos às cegas, com vendas que vamos colocando sobre os olhos. E quando você decide enxergar, já está ferrado, na tempestade, atormentado pelas fraquezas e assustado com as conseqüências de pequenos atos inconseqüentes. E quando você acha que mais nada pode acontecer, a vida te mostra mais uma vez que você é apenas um ponto em um universo infinito.


Repentinamente os ventos contrários sopram, e eu que achava estar chegando a algum lugar de honra, sou levado de volta a um lugar de humildade. Percebo então que qualquer vento contrário, aparentemente infernal, pode me levar à reconstrução do meu ser. A tensão que leva à redenção é tudo o que eu preciso sem saber. Toda a escuridão sempre coopera para o meu bem, sem perceber, sem entender. Desejo nunca me esquecer. Que o ‘fantasma’ sempre estará sobre as águas, que o sonho brilha mais forte que a escuridão do poço, que o mestre dos mares continua dentro do barco. Abrir os olhos é pisar sobre o único degrau que se pode ver. Ter fé é insistir em acreditar que não importa quão forte seja a tempestade, quão longe os ventos contrários te façam voltar ou quão profundo seja o poço que te jogaram ou que você se jogou, a verdade absoluta é que o medo, a insegurança, a cruz, a dor e a morte são aparentes. A única coisa genuína é o que a redenção proporciona. Quando não temos mais saída, tudo o que precisamos é de um recomeço de VIDA.

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